quinta-feira, 9 de julho de 2009

Lidar com as Perdas






Quando nasci, meu pai já estava com 51 anos de idade. Mesmo com tamanha diferença, nos identificávamos sobremaneira, em personalidade, comportamento.




Muitas lembranças reúno dentro de mim dessa relação tão repleta de significados. Algumas delas me levaram a grandes experiências comigo mesma e que me fazem até hoje refletir acerca do mundo e das pessoas os quais convivo diariamente.




Lembro, por exemplo, quando ele me levava, mesmo com 3 anos de idade, ou menos até, ao Estádio de Futebol, o "Almeidão", na cidade de João Pessoa-PB. O estádio era vizinho ao bairro em que morávamos, o Ernesto Geisel. Durante os jogos, ficávamos torcendo pelo "seu"( ou seria "nosso"?) time do coração, o Botafogo da Paraíba. Eu sempre sentindo aquele olhar me seguindo e me velando, por onde quer que eu fosse. Era bem divertido.




Aos domingos, ele e minha mãe (hoje estão separados, mas isso é tema para outro episódio...) lotavam o carro de vizinhos e de... cachorros... Rumo à Praia do Sol! Essa praia tinha bela paisagem.e fortes ondas.




Era uma festa só, com direito à farofa e muito caranguejo. Meu pai deitava na areia e me observava em cada mergulho. Fazia peripécias na água, e logo olhava lá longe na areia para ver o semblante e o sorriso de aprovação que ele me enviava.




Certa vez, resolvi ousar ainda mais naquelas bravas ondas da Praia do Sol. Uma onda me deu um "belo" caldo. Rolei por debaixo dágua, sem sentir controle sobre meu corpo. Não conseguia respirar... Imagine uma criança, em meio a outras tantas, prestes a passar por uma tragédia. Prontamente senti um braço me puxando da água, e logo estava eu deitada nos braços do meu pai, a salvo. Aquele que me observava estava preparado para me socorrer de qualquer perigo.




Muitas madrugadas, fazíamos companhia um para o outro. Ele escrevendo em sua pequena máquina de escrever e eu observando tudo o que ele fazia. Quando estava quase amanhecendo e o sono nos vencia, íamos deitar os dois em uma rede. Verdadeira relação de cumplicidade.




Essas são as poucas entre as tantas histórias vivenciadas por nós dois. Mas algo eu não esperava acontecer: a separação entre meus pais. Isso ocorreu quando eu tinha 6 anos de idade. Período muito difícil para mim, pois iria morar em outro lado do país, e longe do meu pai.




Mesmo estando ao lado de minha mãe, que foi guerreira ao optar por morar em um "recém" Estado sem estrutura alguma, para recomeçar sua vida no Estado de Rondônia, ainda ficava a lacuna da falta do meu pai.




Essa foi minha primeira grande perda, mas que era remediada quando eu ia todos os anos visitá-lo em João Pessoa. Minhas férias já eram programadas para isso.




Tanto minha mãe quanto meu pai casaram-se novamente e seguiram em suas vidas.




Mas o destino me pregou uma peça e por meio de um telefonema. Recebi a notícia de que meu pai estava acometido pelo "mal de Alzheimer", doença progressiva e degenerativa, incurável e terminal, que até hoje é considerada incurável.




Com o avançar da doença vão aparecendo novos sintomas como confusão, irritabilidade e agressividade, alterações de humor, falhas na linguagem, perda de memória a longo prazo e o paciente começa a desligar-se da realidade. As suas funções motoras começam a perder-se e o paciente acaba por morrer.




Foi em 2006 que recebi um telefonema da então família de meu pai, informando o agravamento de seu quadro. Ele não resistiu e faleceu.




Para mim foi algo surreal. Uma dor que eu nunca imaginava sentir. Era como uma espada atravessando meu peito; como algo me espremendo e sufocando. A primeira coisa que vem à nossa mente são as lembranças e memórias... os detalhes de cada bela passagem. O carinho que não mais podemos demonstrar. As palavras que não serão mais ditas.




É o sentimento que nem toda lágrima do mundo alivia. É o vazio... A impotência!




Aquele que me salvava das mais bravas ondas morria e eu não podia salvá-lo daquela turbulenta "maré" e retribuir todo seu zêlo para comigo. Estava eu ali, impotente diante do destino.




E a morte de um parente traz consigo o desequilíbrio, pois há uma intensidade de sentimentos envolvida.




Eu não soube lidar com a morte do meu pai. Entrei em "parafuso" e profunda depressão. Recorri a psiquiatras, psicanalistas, igreja.




Nada pôde me ajudar, além da minha fé em Deus, e até o momento em que eu decidi sair dessa lama.




Tentei entender que este é o ciclo da vida e que valia mais a pena deixar a minha seguir em frente.




Ima coisa é certa: O primeiro passo para sair dessa foi meu! Eu quis. Lutei e consgui. Não digo que foi tarefa fácil. Foi árdua, mas decidi por vencer. E venci!




Mesmo passando por um processo longo, como é o caso desse tipo de doença, nunca estamos preparados para as perdas.



Todos sabem que a morte existe. Mas ninguém deseja passar por ela.




Vamos cair um instante na realidade: você está preparado para enfrentar uma perda inesperada? Você saberia lidar com ela?




Já me peguei algumas vezes imaginando a possibilidade de não ter mais algumas pessoas queridas ao meu lado. Sensação péssima. Você já fez isso, de observar, mesmo que receosamente, uma pessoa, e imaginar viver sem ela o resto da vida?




É difícil até de pensar na possibilidadem, não é?






Sabemos que morte nunca vem sozinha. Geralmente está envolvida por dúvidas e "por quês". Normal. É da natureza humana questionar o desconhecido ou aquilo que vai além das explicações científicas. O que buscamos são respostas que nos satisfaçam. Aliás, a própria Ciência ainda não conseguiu desvendar os enigmas que assolam o assunto.




As informações obtidas até então são as "não-comprovadas" cientificamente, por meio de dogmas e experiências transcedentalmente pessoais ou de grupos espiritualistas.




O que temos é a certeza de que "um dia morreremos" e que para morrer basta estar vivo.




E como sair de uma situação pesarosa, com menos danos emocionais? Talvez fazendo como fiz, transformando perdas em ganhos. Funcionou para mim e portanto, passo a minha receita para você.




Mas como podemos ganhar em situações trágicas? Posso afirmar que esse ganho é "interior", onde você adquire crescimento e faz grandes descobertas sobre você mesmo.




Quem conseguir superar e melhorar a sensação de sofrimento, tende a ter um ganho emocional com valor inestimável.




O que ganhei, está dentro de mim e ninguém pode tirar o que acumulei.




Hoje posso dizer, não que esqueci, mas que consigo pensar na morte de meu pai com mais profundo alívio.




É como uma cicatriz. Sabemnos que está lá. Tocamos nela, mas não é mais dolorida...




AS PERDAS NÃO LAMENTEMOS


POIS AS TRILHAS QUE VIVEMOS


RENOVAM-SE A CADA ERA...


... SE NO OUTONO A FOLHA CAI, É CERTO, VAI


RENASCER NA PRIMAVERA!


(Oriza Martins, 2007)






by Johanna.










2 comentários:

  1. Entendi, refleti...to pensando pensando.. e essas palavras acrescentaram algo em mim...

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  2. já perdi varias pessoas q eu amo, e sei o quanto e dificil lidar com a perda!

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